quinta-feira, 20 de outubro de 2016


DROGARIA E PERFUMARIA S PEREIRA LEÃO


in memoriam

Eleições Autárquicas Lisboa



Quem, como eu, passeava, em tempos há muito idos, com Mãe, Avó e Tias pelas ruas da Baixa Lisboeta, conheceu, sem dúvida, a centenária Drogaria e Perfumaria S Pereira Leão, no 223 da Rua da Prata, in illo tempore meu ponto de romagem obrigatório e, até há alguns meses, um dos últimos bastiões do comércio tradicional alfacinha.




câmara municipal de Lisboa



Naquela que foi a antiga Drogaria Alvarez pontificou, durante muitos anos, o Senhor Carvalho, presença sempre simpática e afável num balcão onde encontrávamos um pouco de tudo: pasta medicinal Couto, lavanda da Ach Brito, sabonetes Feno de Portugal, pinceis para a barba, sabão macaco, grandes frascos de vidro com os mais variados perfumes a granel e sei lá quantas coisas mais, sempre impecavelmente expostas em tradicionais vitrinas montadas em madeira, como hoje não se fazem e poucas restam, já.


CML


Com o andar dos tempos, a oferta foi-se diversificando, foi-se atualizando, sem, todavia, esquecer os produtos tradicionais, que, tal como o atendimento atento e personalizado, sempre foram a imagem de marca da Alvarez, como durante muito tempo ainda lhe chamaram.

A clientela diversificou-se, também, sendo muitos os mais jovens que, ávidos da vivência de um passado que nunca conheceram, demandavam esta e outras lojas da Baixa outrora frequentadas por avós e pais.



Fernando Medina


Mas o "progresso" não pára, e não tem limite a voracidade dos fariseus que vão, não apenas consentindo, mas, até, incentivando a transformação, num gigantesco parque hoteleiro, daquilo que resta da nossa Baixa, deixando, à sua passagem, o desolador rasto de destruição de quem não hesita em arrasar a cultura e a nostalgia lisboetas em prol de mamarrachos, de monos sem beleza, sem memória, sem tradição, sem História, enfim.



Eleições Autárquicas
A Baixa é, cada vez mais um monumento ao vazio cultural e intelectual, ao que é oco, ao hoje tão louvado "empreendedorismo", na sua forma mais selvática e predadora;  pelo menos, para meia dúzia de papalvos que parece babar-se de cada vez que contempla a "obra" feita sobre a outra desfeita, e dela se gaba como se de grande coisa se tratasse.


Começou, assim, a liquidação do stock e do imobilizado, as promoções...  até que a S Pereira Leão abriu, pela última vez, as suas portas no passado dia 31 de Março.  Para quê?

De nada valeram protestos, manifestos, petições.

Vem aí mais um hotel para a Baixa!  Outro!

E lá morreu mais uma loja tradicional. Outra!














Na terra onde os elétricos se vão indo e ficando os tuk-tuks em vez deles, também a História se vai esbatendo na imparável destruição dos seus marcos, substituídos por "coisas" incaracterísticas, muito ao gosto de quem o não tem;  e, certamente, nada apelativas para quem nos visita, que, na Baixa Lisboeta, sempre encontra camas e mais camas, e cada vez menos o que ver, aquilo por que cá vem.



Há, um pouco por toda a Cidade, obras abandonadas, projetos infindáveis.

No entanto, tal é a pressa de faturar, que escassos meses após o encerramento da S Pereira Leão, para ver já resta, apenas, mais um edifício esventrado, uma fachada semi oculta por uma rede em que os contornos dos andaimes se confundem com o ferro das varandas que vão sobrevivendo.





No 223 da Rua da Prata, a tradição deu, uma vez mais, lugar à miséria da mediocridade e das patacas.

Para que ninguém esqueça, aqui fica, assim, mais uma, singela, entre tantas outras homenagens
ao Senhor Carvalho, à Drogaria e Perfumaria S Pereira Leão,
e a quantos a acompanharam até que outros lhe ditaram o fim.


Nota:  as imagens da loja datam de 20.11.2015

Este local situa-se na área geográfica de intervenção da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior



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Alguns Links:

Drogaria S. Pereira Leão (Facebook)

Manifesto Para uma Cidade das Pessoas Contra o encerramento da Drogaria S.Pereira & Leão, ou a sua transformação num pastiche vintage

Drogaria e Perfumaria S. Pereira Leão (A Arqueologista)

terça-feira, 18 de outubro de 2016


Insólito: AS OBRAS DA SANTA CASA


"DESCUBRA AS DIFERENÇAS"



Não encontra diferenças?
Pois é, tem razão.
Diferente, entre as duas imagens, só mesmo a data.

Trata-se, no entanto, de um "edifício em reabilitação" (o da esquerda), o que, à partida, deveria querer dizer que está em situação já bem diferente da do outro, que se vê ao fundo, que, por sua vez, não passa, ainda, de um "edifício a reabilitar" - o que poderá querer dizer:  "um dia, talvez, sabe-se lá".
Mas este, em primeiro plano, está já "em reabilitação".  Até está "em reabilitação" há já vários anos, com uma evolução evidente que, se os meus leitores não conseguem discernir, é, certamente, porque estão de má vontade, tal como eu.
A situação, ao que parece,  não data de há, apenas, um ou dois anos atrás.

É que, escurecendo um pouco o desbotado cartaz que ostenta o outro edifício - o da direita, ainda "a reabilitar" -, ou me engano muito, ou aquilo parece ser um processo "/9?...", ou seja, de mil novecentos e noventa e qualquer coisa.
Ora, o processo do felizardo que até já está "em reabilitação" deve ser, até, mais antigo, uma vez que, deste, já a tinta toda há muito se foi.
Será mesmo?  Ah, não.  A nossa estimada Câmara Municipal não iria, certamente, deixar arrastar tanto tempo assim aquela miséria na Baixa de todos nós!
Não só por isso:  também porque a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, proprietária dos dois edifícios, cuida do seu património;  e garante-o, mesmo, em letras gordas, para quem quiser ver.



Aqui, a fachada que dá para a Rua da Prata.


No piso térreo, através do vidro sujo ainda se vê parte do stock da antiga Casa Terenas.


Na montra, algumas peças ainda ostentam o  preço;  como se, um dia, tudo aquilo ainda fosse voltar à vida, em lugar de, mais tarde ou mais cedo, ser esventrado.  Talvez mais um hostel, agora também da Santa Casa...

Tudo muito triste, muito velho, muito cinzento, nas obras da Santa Casa naquelas esquinas da turística Baixa.

Ninguém repara?
De tudo aquilo, a única parte do património da Santa Casa que parece, realmente, "cuidada" são os telhados.
Mas estes de nada servirão, caso a "recuperação" seja, antes, uma demolição do interior,
como normalmente acontece.

É claro que muitos outros imóveis degradados existem em Lisboa e, particularmente, na Baixa:  situações dessas venho, de há um ano a esta parte, denunciando muitas, aqui no Misérias de Lisboa.
Mas é o despudor dos dizeres, obviamente mentirosos, ostentados naquelas fachadas que torna este caso insólito;  principalmente se nos lembrarmos que quem nos prega a peta é, nem mais nem menos, tão misericordiosa entidade...
Se isto é atitude própria de quem afirma que "cuidamos do nosso património", não espantará, por certo, que outros, com menos responsabilidades e menos ostentação, "cuidem" do deles da mesma maneira.
Existe, nestas coisas como em todas as outras, a responsabilidade do exemplo;  e este não é, por certo, um exemplo a seguir.
Quantas mais destas obras da Santa Casa haverá por Lisboa,
com a complacência da nossa Edilidade?

Não faço ideia.

Esta, se quiser contemplá-la, pode encontrá-la na Rua da Vitória, tornejando para a Rua da Prata, mesmo em frente à Igreja de São Nicolau.

Mas...  não se apresse...  vá com tempo...


Pelo andar da carruagem, 
aqueles dois infelizes prédios estão, e estarão, ali para durar...

... a menos que utilizem, para os recuperar, alguns dos ganhos com o recente aumento do preço da aposta no Euromilhões...  sabe-se lá!


Este local situa-se na área geográfica de intervenção da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior 


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quinta-feira, 6 de outubro de 2016


CONVENTO DO BEATO



Eleições Autárquicas

Esclareça-se, antes de mais, que o problema que aqui me traz não reside, propriamente, no Convento do Beato.

Bem pelo contrário:  o Convento encontra-se, tanto quanto sei, recuperado e muito bem conservado, nele se realizando alguns eventos elegantes ou culturais da Capital.  Quanto a este, a única "miséria" a apontar seria, assim, o não ser visitável, nem mesmo se conseguindo ver ou fotografar o exterior, a não ser a partir da via pública - por exemplo através de alguma frincha de algum menos bem cuidado portão que por ali se possa encontrar, como aconteceu com a imagem à direita...


O problema reside, antes, no conjunto de edifícios degradados - alguns dos quais não passam, já, de ruínas - que envolve o Convento;  e é deste que vos trago algumas imagens que quase por si só irão falar.

Eleições Autárquicas Lisboa


Para a "reorganização" do belo "Complexo Histórico e Arquitectónico do Convento do Beato" parece existirem planos;  pelo menos, a fazer fé no cartaz afixado no n.º 38 da Rua do Beato - quase ilegível, de tão desbotado que está.
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O Convento e os imóveis que mais proximamente o rodeiam são, ao que consegui apurar, propriedade da "Portugal e Colónias", como ainda a designam por aqueles lados.



Localizados na confluência da Alameda do Beato com a Rua do Beato, todos estes aparentam estar devolutos;  pelo menos, os que dão diretamente para a via pública, já que aos outros não tive acesso.

Neste, acima, à esquerda, terá funcionado, há muito tempo, um supermercado, mas, desde então, nenhuma outra utilização lhe é conhecida.


Nos restantes que dão para a Rua do Beato, funcionaram, em tempos, indústrias diversas, desde a eletromecânica à têxtil;  parece ter ali existido uma fábrica de fechos de correr cujos edifícios iam até à via férrea.








O acesso far-se-ia pelo degradado n.º 32, que, segundo por ali dizem, daria também entrada para o que foi o Pátio do Miranda
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Continuando até onde a Rua do Beato dá lugar à Rua do Açúcar, encontramos a entrada para o Pátio da Quintinha.

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Segundo uma publicação disponibilizada pela Junta de Freguesia de Marvila, "este páteo já foi casa senhorial pertença da família do Marquês de Marialva.  Ficou «quintinha» face à grande casa do Marquês.  Pode-se chamar Pavilhão Marialva porque talvez tivesse tido as funções de apoio a um antigo Cais Marialva.  Ainda mantém belíssimos azulejos do século XVII" (Marília Abel e Carlos Consiglieri, in "Marvila" - Dinalivro - Lisboa, 2006 - pág.97).

Pois bem, aqui fica uma imagem bem atual do Pátio da Quintinha.






Depois do Pátio, mais um edifício degradado.
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A joia da coroa deste miserável conjunto encontra-se, porém, mesmo em frente, do outro lado da rua.





Trata-se, ao que consegui apurar junto de um morador vizinho, de uma antiga refinaria de azeite, tão antiga já que mais ninguém por ali perto foi capaz de me dizer do que se tratava.






Completamente degradada, serve hoje de refúgio a pessoas sem abrigo e a toxicodependentes, que por ali pernoitam, perante a complacência da Câmara, da Junta de Freguesia e da Guarda Nacional Republicana - que tem instalações paredes meias com o decrépito imóvel.








Aqui ficam algumas recordações do interior, e da evidente insalubridade que impera na lixeira em que se transformou.








O que vale é que já há licenciamento para obras... como em quase tudo quanto está a cair de podre na nossa cidade de Lisboa.


E, a julgar pela imagem,  quão recente o licernciamento deve ser...
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Um "conjunto arquitetónico" a recordar;
e a visitar, no próximo evento a que por ali assistir.


Este local situa-se na área geográfica de intervenção da:

  • Junta de Freguesia do Beato
  • Junta de Freguesia de Marvila




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Alguns Links:
Convento do Beato (Junta de Freguesia do Beato)
Convento do Beato António (e-cultura)
Incêncio Destruiu 70 por Cento do Convento do Beato (Eclésia)
Convento do Beato Reabre Hoje (Público)

segunda-feira, 3 de outubro de 2016


OLYMPIA E ODÉON




De um e do outro lado da Rua dos Condes, o que foram dois ícones do cinema português e, agora, não passam de dois mamarrachos, um deles praticamente invisível, de tão entaipado que está.

Passa-se isto em pleno coração turístico de Lisboa, junto à Praça dos Restauradores, a poucas centenas de metros do viveiro de hostels em que se encontra transformada a nossa Baixa.



Eleições Autárquicas Lisboa


Ao que parece, sucedem-se os projetos, uns mais recentes, outros menos;  na prática, uns e outros nunca passaram de simples ideias ou, quiçá, de belas declarações de nobres propósitos unicamente destinadas a calar as mais indignadas bocas do universo cultural.

Encerrado há décadas, o Odéon esteve, mesmo, para ser classificado;  mas, afinal, isso não aconteceu, já que, há um bom par de anos, se decidiu que toda aquela zona iria ficar em vias de classificação.  Desde então, assim ficou.  Em vias de...  vias bem longas, já se vê.


Eleições Autárquicas
Entre os avanços e recuos da Câmara lenta Municipal de Lisboa, lá vai o imóvel servindo para encostar caixotes do lixo e lixo sem caixote, deixando no nariz do alfacinha e do turista que por ali passam um fedor pestilento (refira-se, a propósito, que foi, precisamente, um cidadão espanhol que teve, há dias a amabilidade de, na página "SUGESTÕES" chamar a atenção para mais esta miséria lisboeta).

Fizeram, recentemente, um assim chamado jantar de despedida ao Odéon;  despedida tardia, já se sabe, como tanta coisa nesta Cidade, uma vez que o verdadeiro adeus aconteceu há uns bons vinte anos, quando a última bobina de filme ali rodou.

Claro está que nada isto é para admirar:  padecem do mesmo mal tantos outros edifícios com valor cultural ou arquitetónico, nos quais a necessidade de preservar determinadas características que seria escandaloso eliminar onera de tal forma a requalificação que torna pouco interessante o investimento.





Ia ser centro comercial;  depois, apartamentos e loja.

No entanto, ainda nada aconteceu,  e a degradação do Odéon lá continua, hoje já bem visível em todas as fachadas.




Entretanto, de uma varanda, um pombo assiste, como que de um ferrugento balcão, às obras magníficas que decorrem no edifício adjacente e no que lhe fica fronteiro, na Rua das Portas de Santo Antão.


Projetos, realizados em edifícios completamente esventrados, sem partes nobres a conservar, logo,  provavelmente, bem mais lucrativos e de mais rápida execução ( a propósito:  serão hostels? ).


Em suma:
mais uma demonstração daquele típico e enraizado farisaísmo,
que já ninguém se preocupa, sequer, em disfarçar.

- x -

Mais conhecido pelas suas sessões contínuas, o centenário Olympia tem sido a personagem principal de uma novela cujo tema central é a requalificação em teatro e em escola de artes cénicas.

Ora, também esta outra história, já dura vai para uma década, não se vendo sinais concretos de que, a breve trecho, algo seja feito para desentaipar o velho imóvel da Rua dos Condes que, com o Odéon, forma um conjunto de tralha que, não sei em nome de que interesses, por ali tem ficado, aparentemente esquecido, numa zona em que, simplesmente, coisas destas não deveriam ali ser encontradas.  Sobretudo, por quem visita a nossa Cidade.

Ainda bela, apesar de tudo...



Diz o anúncio que
"As Árvores Morrem de Pé".


Será ficar podres e vir por ali abaixo o destino destas duas emblemáticas salas de espetáculo?



Este local situa-se na área geográfica de intervenção da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.


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Alguns Links:
Cinema Odéon ( Câmara Municipal de Lisboa )
Cinema Odéon Fica de fora da Proteção da Câmara de Lisboa ( TVI24 )
O Jantar em Lisboa que Disse Adeus ao Odéon ( Observador )
Cinema Odéon Poderá Dar Lugar a Apartamentos e Loja ( Público )
Governo Chamado a Salvar Cinema Odéon ( Expresso )
Cinema Odéon ( Restos de Colecção )
Cinema Odéon ( Wikipedia )

Cinema Olímpia ( Restos de Colecção )
Cinema Olympia ( Wikipedia )
Cinema Olympia ( Lisboa de Antigamente )

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